kaboom #festivaldorio

Kaboom (idem), de Gregg Araki. EUA/França, 2010

Kaboom deve ser fruto de quantidade excessiva de ácido. Nesta mistura de Malhação, Mutantes e algum filme gay de quinta, o diretor Gregg Araki, segundo disse a imprensa durante a passagem do longa em Cannes, volta às suas origens ao filmar uma história híbrida quanto a tramas e gêneros. Como não conheço – e agora não sei se pretendo conhecer – sua filmografia, pouco importa se o cineasta está sendo ou não fiel com seus princípios: a péssima impressão ao fim da sessão é o que pesa.

Impressão que é menos pelo filme começar como um romance gay com pinta de comédia independente norte-americana e se transformar num thriller que envolve a destruição do planeta [!] e mais pela trama absurda desenvolvida, a qual terá toda sua conclusão apresentada nos últimos 10 minutos, mesmo que o caminho para se chegar a ela não tenha feito o menor sentido. Até porque sentido é algo que Kaboom não faz questão de possuir. Os personagens – por sinal, um desfile de caricaturas e bizarrices, tendo como maior representante uma bruxa lésbica que é só mesmo mais um elemento estranho da história  – passam a saber de informações ocultadas durante todo o filme no momento conveniente, sem que a maneira como foram obtidas seja apresentada ao público. Mas não vale a pena discorrer sobre o tratamento dado ao desenvolvimento da história, já que pelo visto o único objetivo do roteiro, também assinado por Araki, é alcançar o cúmulo do nonsense. Isso ele consegue, só resta o público também embarcar nessa viagem. Eu não embarquei, fiquei puto e quero meu dinheiro de volta.

[E piada infame para quem viu o filme: quero um presente de aniversário igualzinho!]

nota 1,5

picasso & braque vão ao cinema #festivaldorio

Picasso & Braque Vão ao Cinema (Picasso & Braque Go To The Movies), de Arne Glimcher. EUA, 2008

Uma das coisas boas do Festival do Rio é assistir a filmes que, provavelmente, pouca chance temos de assisti-los em outra ocasião. Picasso & Braque Vão ao Cinema é um desses – e um bom título como esse ajuda a destacá-lo em meio a enorme programação. Pena, pois o documentário em questão, apesar de sua brevidade – são apenas 62 minutos! -, é uma aula rica sobre o diálogo – e ignorem minha ignorância, desconhecia-o por completo – entre dois segmentos artísticos: o construtivismo pictórico de Picasso e Braque e os primeiros filmes do cinema. Um dos produtores, Martin Scorsese, inicia o estudo que conta com participação de artistas, estudiosos e cineastas, todos a fim de esclarecer para o espectador em quais circunstâncias e de que forma a tal relação se estabelece.

O documentário requer atenção, e Arne Glimcher favorece ao optar por uma edição quase sem  fragmentos, assim cada entrevistado fala ininterruptamente para a câmera, tendo sua imagem substituída apenas por algum material que ilustre seu discurso. Desta forma, Picasso & Braque oferece um farto conteúdo da produção do início do cinema, a qual, além de ser um deleite por si só, contribui perfeitamente para o foco principal do filme. Tanto Picasso como Braque descobriram  cinema e por ele se apaixonaram. Desde pintar o que assistiam na tela, a cinematografia da época influenciou, direta ou indiretamente, da luz de seus quadros até a tensão entre movimento e estaticidade carregada pelas pinturas – a famosa “Les demoiselles d’Avignon” é estudada detalhadamente nesse aspecto. Mas não menos importante, o filme é uma análise sobre como esses artistas, diante de uma nova e revolucionária ferramenta, capaz de registrar a passagem do tempo e a explosão de movimentos, também incitaram, pela pintura, uma nova forma de ver o mundo.

nota 8,0

o universo de keith haring #festivaldorio

O Universo de Keith Haring (The Universe of Keith Haring), de Chistina Clusen. Itália/França, 2007

Depois de Andy Warhol, talvez não haja outro nome que nos chegue à mente ao pensarmos em arte pop que não seja Keith Haring. Certamente o meu preferido dessa vertente, Keith tem sua trajetória artística e vida – incluindo, claro, sua forte amizade com Warhol e Madonna – retratadas neste eficiente documentário, que talvez só peque pelo anúncio cafona de cada entrevistado. Mas isso é mero detalhe em meio a um farto material de imagens, depoimentos do artista e familiares e vídeos de suas criações, dentre eles, a famosa pintura no Muro de Berlim. Também no acervo, entrevistas em que Keith fala abertamente sobre sua sexualidade – e a vontade consciente de assumi-la era, segundo ele, a razão da constante e característica presença de falos em suas obras -, família e a poética de suas obras.

O mais empolgante de ver em um artista é sua necessidade de fazer arte, algo que esse documentário não nega quanto a Keith. Impulsionado pelo pai, desenhava desde criança, e parece que seu ímpeto criativo crescia junto com ele, não podendo mais caber numa folha de papel ou numa tela pequena. A paixão despertada pela arte urbana de Nova Iorque, para onde se mudou a fim de estudar na Escola de Artes Visuais, refletia o desejo do artista: realizar uma arte acessível a todos, presente nas ruas, no museu, no metrô, nas camisas, bottons, em cada autógrafo que distribuía. Não há limites para o suporte de sua pintura, tudo era pretexto para sua compulsividade de traçar ininterruptamente seus desenhos tão singulares. Falavam para parar de entregar sua arte gratuitamente, mas não havia hesitação para Keith. Se a Aids encurtou seu legado, a alegria de sua arte ainda permanece.

nota 8,0

a volta de glee!: s02e01 – audition

Contém Spoilers

Ok, seria difícil não gostar de um episódio de Glee com “Telephone” e “Listen”. Mas independente da euforia que me tomou ao ouvir essas canções na série, seu retorno fez jus ao sucesso da primeira temporada. Audition apresentou novos personagens que parecem render futuros bons momentos, renovou seus números musicais – sem abrir mão dos bons  e conhecidos no auditório ou na sala de audição -, trouxe Sue Sylvester em seu melhor estilo e deixou uma pergunta: “Como conseguimos ficar tanto tempo sem isso?!”.

Se não despertou a atenção da maioria dos alunos no pátio da escola, “Empire State of Mind” empolgou do outro lado do monitor com um número musical bem coreografado ao ar livre – e só as versões de Glee são capazes de me fazer ouvir hip-hop, um estilo que, particularmente, muito desagrada -, dando início a ótima seleção de músicas do episódio, como sempre, valorizadas pela interpretação do elenco. E através de suas vozes, conhecemos  também dois novos personagens. Sam [Chord Overstreet], não à toa descoberto cantando no chuveiro como Finn na temporada anterior, soa mesmo como um reflexo do passado do  atleta, ou seja, apesar do talento – “Billionaire” o deixou claro -, a preocupação com sua popularidade e reputação pode atrasar seu possível ingresso no Glee Club. Mas com Finn expulso do time de futebol e Sam ocupando justamente sua posição, a relação entre ambos pode tomar rumos diversos. Sunshine [Charice], por sua vez, talvez pouco aparecerá na temporada devido aos últimos acontecimentos, mas sua participação foi marcante com “Listen” e o dueto com Rachel em “Telephone”, numa cena hilária no banheiro.

Mas é Bestie [Dot Jones] a personagem mais empolgante desse início, a qual, com a saída do treinador Ken Tanaka – graças a Deus, porque ele era um porre! -, assume o comando do time de futebol americano. Aparentemente soando como uma nova versão de Sue, Bestie já mostrou que vai muito além de uma ditadora em campo, revelando sentimentos e vaidades por detrás de muita massa e uniforme masculino. Com o trabalho da atriz Dot Jones, que equilibra perfeitamente a ambiguidade da personagem, Bestie tem tudo para crescer ao logo da temporada. Além de tudo, é mais um alvo fácil para Sue Silverter. Ah, e Sue Sylvester! Nada nesse episódio foi melhor que Jane Lynch e seus comentários – e eu terei o prazer de anotar os melhores ao longo da temporada.

Só o que me preocupa é o retorno de Quinn à Cheerios. Torço para a personagem, que muito evoluiu ao longo da temporada passada, não retroceder e voltar à superficialidade que era no início. Por outro lado, o motivo de Santana ser rebaixada entre as líderes de torcida não poderia ser mais nonsense e engraçado, o que mostra que Glee não perdeu suas qualidades. E resta esperar o que virá com a briga das duas.

Encerrando com “What I Did For Love” na voz de Lea Michele – e todos os solos da atriz são dignos -, o primeiro episódio desta nova temporada foi promissor, ainda que o namoro entre Tina e Mike tenha soado um tanto forçado à primeira vista e Emma não ter dado as caras. No mais, foi aquela coisa, Rachel fazendo merda e pagando de diva, a bondade sem fim de Will falando mais forte, Kurt levando bebida na cara e sendo chamado de “mocinha”… Essas coisas, enfim, que a gente gosta de ver.

Creio que coisas boas virão por aí. E acredite, o episódio com Bitney Spears semana que vem pode ser uma dessas.

nota 5/5

E disse Sue Sylvester:

  1. “Primeiro, treinadora de futebol, assim como enfermeiro homem, vai contra a natureza.”
  2. “Não quero você na minha equipe. Ficarão surdas com o som das suas estrias se esfregando.”
  3. “E Sra. Peituda, você ficará na base da pirâmide. Assim quando cair, seus air-bags protegerão a equipe.”