A sequência inicial de 400 contra 1 cria boas expectativas. Com certa dose de estilo – ainda que um estilo conhecido -, Caco Souza recria com figurinos coloridos, câmera semidocumental e música black de trilha sonora uma invasão a banco organizada pelo até então prematuro Comando Vermelho, datada no ínicio da década de 1980. Crime de uma série de assaltos que inaugura suas “atividades” e repercute a facção através dos noticiários brasileiros. Mas não demora para os problemas do filme se evidenciarem, ainda que seus esforços sejam claros. Um deles é a edição não-linear, a qual, ao intercalar a formação do Comando no presídio da Ilha Grande na década de 1970 com o período de sua consolidação, torna-se apenas um recurso didático aborrecidíssimo para o espectador, obrigado a cada mudança de tempo narrativo se deparar com um anúncio enfático – e quem assistiu sabe o quão enfático é – do ano correspondente aos acontecimentos vistos na tela, algo que todos os elementos do longa já são capazes de informar. [E não sei o que é pior: insistir em tal recurso por todo o filme ou, como ocorreu, abandoná-lo no meio da narrativa, com a única justificativa, suponho, do espectador já ter entendido – e não seria possível o contrário – sua não-linearidade].
Não apenas sua estrutura insiste em didatismo. Também o roteiro, o qual já insinua certa preguiça ao empregar uma narração em off quase onipresente e mal consegue lidar com seus personagens [ou é possível compreender as motivações da advogada em cena?], é repleto de diálogos que mais parecem voltados a informar o público os acontecimentos, como se os personagens falassem unicamente para o espectador, o que, obviamente, compromete a naturalidade do filme. Quando o deslumbramento pela edição e um roteiro como esse se unem, o resultado é o anúncio, feito por determinado personagem, de um possível massacre iminente a acontecer no presídio ser seguido por cenas vindouras do longa que revelam sua concretização. E assim como num outro momento em que um rádio é posto em quadro apenas para justificar seu título, 400 contra 1 parece encontrar nas formas mais fáceis e banais a maneira de contar sua história.