sem título

Começaram a sentir uma coisa e a chamaram de amor. Era só sentida, sem discernir, era bom e ruim, mais bom que ruim e por vezes mais ruim que bom. E a palavra amor passou a representar uma coisa que ninguém sabe o que é, já tentaram explicar – cientificamente até -, mas ninguém chega num denominador comum. Mesmo assim, todo mundo procura, todo mundo quer. Feito doce de São Cosme e São Damião. Ninguém gosta daquelas marias-moles – ou seria maria-moles ou marias-mole? -, cheias daquele açúcar grosso e ruim e como fica tudo misturado naqueles sacos com os santos estampados vestindo roupas estranhas, às vezes a maria-mole – agora no singular, porque ninguém coloca mais de uma maria-mole no saco, porque vai sempre parar na lixeira após uma única mordida, aquela pra comprovar que o doce realmente é uma merda e você não quer comê-lo inteiro -, ela se mistura com o doce de abóbora, feito sabão alaranjado e duro e também uma merda, e fica pior ainda. Mas como o doce é de graça, a gente pega. O amor é caro, o amor tem cara? Quem colocou esse nome? E raiva? Sentes uma coisa que dá vontade de socar a porta a parede a janela e pimba, lá vai você dizer que sente raiva, porque raiva tem cara de raiva? (Já formou a imagem dela na cabeça, como se ela fosse uma pessoa? Acho que seria uma bela mulher.) Quem pôs nome nos sentimentos? Deus? Adão? Eva? O homem de neandertal, vá saber. Porque acho que faz muito sentido uma garrafa com umas hélices em seu fundo disposta sobre uma base com alguns botões pequeninos se chamar liquidificador. É fácil dar nome ao que vemos – só não foi difícil chamar Deus de Deus porque ele se autodenominou. Mas daí chamar pelo nome essas sensações estranhas é um pulo muito grande, muita prepotência, muito poder – dado por quem? Partiram do princípio: somos da mesma espécie, sentiremos todos as mesmas coisas – ainda que eles apareçam quinhentos trezentos duzentos anos depois de nós. Pior que herdamos tudo! Não, pior: herdamos porra nenhuma. Porque tem um monte de impressões e embrulhos e coisas misturadas dentro da gente, do nosso peito, do nosso coração que não fazemos ideia do que são. Tá lá, sem nome, mas tá lá. E aqui.

11 melhores filmes de 2011

Deus, me deixa ver mais filmes em 2012? Obrigado.

Assisti 3 filmes inesquecíveis – um beijo pro Filipe que estava presente nas 3 sessões. E isso já valeu o ano.

11- Enrolados (ou o filme que me fez odiar o Luciano Huck por toda a vida)

Vejo enfim a luz brilhar, já nasceu o nevoeiro.
Coisa mais linda é cantar isso ao som das lanternas flutuantes.
Por isso comprei CD e DVD e acho que é o último grande filme da Disney desde Mulan.
A gente gostou, se divertiu, se emocionou, cantou e quer ver durante boa parte da vida.

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10- O Vencedor (ou o filme em que Mark Wahlberg tá gostoso pra caralho, pra variar)

Gostamos de Huckabees, adoramos O Vencedor e passamos a achar que David O. Russel tem talento de sobra e não precisa de um hiato de 6 anos entre uma estreia e outra.
Christian Bale em mais uma metamorfose corporal e chutando bundas de qualquer um do elenco porque ele é o melhor e o filme, a gente sabe, é sobre seu personagem – mas a gente deixa o Mark brilhar também porque tá sem camisa quase a maior parte do tempo.
Melissa Leo também arrasa, Amy Adams tá bonitinha e corretinha.
Por causa da direção realista de Russel, meu coração batia forte na última luta e eu vibrei com o fim e acho que isso é um feito grande de um diretor.

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9- A Árvore da Vida (ou o filme que me deixou com cara de paisagem quando terminou)

Tipo de filme que a gente entende porra nenhuma mas adora – e sabe que vai precisar rever alguma(s) vez(es) na vida.
Na verdade, a gente entende uma coisa ou outra e vê um sentido, um pensamento, uma coerência em todo o longa.
Sem deixar de ser imerso na longa e profunda e por vezes dolorosa viagem que Malick proporciona.
Impossível ficar indiferente.

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8- Namorados para Sempre (ou o filme que recebeu o título brasileiro mais wtf do ano)

Quem disse que o amor é bonito?
Às vezes o amor já não aguenta mais o outro. E perceber isso é cruel pra caralho.
Daí Namorados para Sempre coloca seus pés no chão e faz você ser menos deslumbrado com tudo. E Derek Cianfrance sabe muito bem o que faz para nos trazer à realidade.
O Ryan Gosling aparece nu. A nação agradece.

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7- Contracorrente (ou um dos melhores filmes com temática gay dos últimos anos)

Porque aquela história toda do cara ser casado com mulher e pegar homem por fora todo mundo já conhece.
Mas há formas diferentes de dizer a mesma coisa e Contracorrente o faz de forma inspirada e tocante.
Há uma cena muito especial, das que a gente não esquece: Miguel pega na mão de Santiago e caminha de mãos dadas com o homem que ama pelas ruas daquela pequena comunidade peruana. Ninguém olha, ninguém ofende. Passam despercebidos, porque Santiago está morto, é apenas vulto. Eles podem, enfim, se libertar.
E na vida, não mais ou menos assim?  A gente tem que ser quase invisível…
[Um beijoteamo pra Camilla que chorou no cinema junto comigo.]

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6- Meia-noite em Paris (ou o filme mais pedante do ano)

Tinha gente que ficava rindo no cinema só pra mostrar que sabia quem eram aqueles personagens todos? TINHA!
Eu era uma dessas pessoas? ERA! -mentira
Allen tava inspirado. Colocou muita coisa linda num roteiro só, e é engraçado, naturalmente engraçado, como ele sabe fazer.
Não é de comer, mas é delicioso.

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5- Cisne Negro (ou o filme que fez do Aronofsky um deus)

É intenso e doloroso também para o espectador. Quando a gente se dá conta, estamos na mesma alucinação que a bailarina.
As imagens compostas por Aronofsky reafirmam em todo tempo a dicotomia ansiada por sua personagem.
Tem a melhor trilha sonora de 2011.
Mas deixa eu confessar uma coisa: ainda prefiro a Natalie Portman em Closer.

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4- Bravura Indômita (ou o filme que assisti duas vezes no cinema)

Uma história de vingança pode ser muito mais legal quando protagonizada por uma menina de 14 anos.
Coens e Roger Deakins é uma das parcerias mais bem sucedidas do cinema atual. Sim, é sim.
Essa coisa de comparar livro e filme é, como sempre digo, uma idiotice. Mas as palavras de Charles Portis ficam comendo poeira diante à beleza das imagens do filme.
O melhor elenco do ano? É, por aí, deve ser.

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3- Medianeras (ou aquele outro filme que me fez querer encontrar um amor pra vida toda)

Você sabe que não será um simples filmes em 5 minutos de projeção.
Quando Vinícius de Morais disse que “a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”, estava prevendo Medianeras.
É sempre bom ver a solidão perdendo mais uma.
Quem soltou um “own” no final diz oi. – OI!

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2- Melancolia (ou o filme que me fez achar Lars Von Trier realmente foda)

O prólogo não é tão lindo quanto o de Anticristo, mas já é um tapa na cara da feiura.
Tem aquela coisa do ser humano, nossa instabilidade, nossas contradições, a incompreensão das nossas emoções.
Tem aqueles minutos finais, que faz a gente quase perder o ar por tudo ser muito melancólico e desesperador.
E tem aquela imensidão do universo, colocando o ser humano em seu devido e pequenino lugar.

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1- A Pele que Habito (ou o melhor filme do Almodóvar)

Fiquei completamente alucinado e levemente enlouquecido.
Por todo aquele amor louco, obsessivo, quase incondicional que rege o homem misericordioso e doente por sua amada.
Por aquela confusão de corpos e almas no lugar errado.
Pelas imagens poderosas de um diretor que alcançou seu ápice.

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Só não coloquei na lista porque tenho vergonha:

Burlesque (ou o filme que me fez amar a Cher)

Eu sei, eu sei. Burlesque é uma merda se a gente pensar bem – ou pensar pouco.
Mas dá pra ignorar Santa Cher com um cabelo diferente a cada cena?
Dá pra ignorar Bound to You e You Haven’t Seen the Last of Me?
Dá pra ignorar aqueles números musicais tão brilhosos, bonitos e emocionantys?
Não responda.